Na próxima quarta-feira, 4 de Junho, será debatido o último ds dualismos desta primeira série. O Prof. António Fonseca, da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica (Porto) abordará o dualismo 'jovem/idoso'. Apresenta-se aqui o texto para debate.
The golden years have come at last ?
Não se chega a velho sem um dia se ser jovem e, todavia, talvez nunca como hoje, os valores do que é jovem se opõem tanto aos valores do que é velho. Valores, sim, porque é disso que falamos quando dizemos que uma coisa (também uma pessoa?) não presta porque é velha ou presta porque é nova. E como tudo muda se dissermos que essa coisa é antiga, elevada desse modo ao estatuto de rara, preciosa (o meu avô dizia que os antigos eram isto ou faziam aquilo, mas para ele os antigos eram os mortos…).
Uma leitura do princípio da igualdade expresso no art.º 13º da Constituição da República Portuguesa dá o mote: “1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.” Em lugar algum do artigo se refere a idade como factor que pode levar à discriminação (negativa ou positiva). Para o legislador, não há qualquer problema, risco ou mérito associado tanto à velhice como à juventude) que mereça ser contemplado na lei fundamental. Provavelmente porque não é necessário, tão evidente lhe parece (ao legislador) que ninguém pode ser “privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever“ por causa da idade que nem vale a pena escrevê-lo.
E contudo a realidade não acompanha a lei (como quase sempre, de resto). Há não muito tempo estava em uso falar da juventude actual como “geração rasca” e eu próprio costumo usar a palavra idadismo para falar dos estereótipos que criamos acerca das pessoas mais velhas e que leva à utilização de rótulos como “uma pessoa de idade” (como se não tivéssemos sempre uma determinada idade!) para justificar porque é que esta actividade não é (ou é só…) para velhos.
Assim sendo, será que os golden years ainda são o que eram?
António M. Fonseca