segunda-feira, 19 de maio de 2008

DUALISMO COGNIÇÃO/EMOÇÃO

Na próxima quarta-feira, 21 de Maio, às 18.00h a Doutora Ângela Sà Azevedo apresenta o dualismo cognição/emoção. Segie-se o texto para debate.


INTRODUZINDO O DUALISMO…

Reflectir acerca do “dualismo cognição/emoção” é um desafio…
Um desafio que está presente no dia-a-dia de cada Psicólogo…na sua formação teórica, nas competências de atendimento, na compreensão da pessoa que procura a sua ajuda, nas decisões que qualquer intervenção de ajuda implica…
Neste “Dualismo: Cognição/Emoção” propomos uma reflexão em conjunto, sobre as seguintes questões:
Cognição/emoção serão construtos opostos?
Fará sentido hierarquizar estes conceitos?
A competência emocional resulta de outras competências, nomeadamente as sócio-cognitivas (Veríssimo, Monteiro, Vaughn & Santos, 2003)?
Será que poderemos encarar o dualismo cognição/emoção como um verdadeiro dualismo?
Ou será que, numa perspectiva eclética, deveremos considerá-los como complementares?


DUALISMO…OU NÃO…EIS A QUESTÃO…

A evolução da ciência Psicológica caracteriza-se pelo desenvolvimento de perspectivas dicotómicas. Nos seus primórdios os investigadores centraram os seus estudos na consciência e nos estados mentais – o Experimentalismo.
Posteriormente, negando ou complementando estas abordagens surgem as teorias Behavioristas que irão enfatizar a primazia de um ambiente estimulador, renegando para um papel totalmente insignificante a vida mental (Azevedo, 2005). Com o mesmo objectivo de contestação, emergem as teorias Psicanalíticas que reavivam os elementos mentais mas agora apenas aqueles que não se encontram acessíveis ao sujeito, isto é, os pensamentos inconscientes.

Mais recentemente, nesta evolução da Psicologia encontramos teorias que, mais do que mostrar a primazia de um conceito em relação ao outro, optaram por apresentar uma abordagem complementar dos mesmos. Assim, as teorias Transaccionais (Altman & Rogoff, 1987) postulam a interacção dinâmica entre variáveis individuais e contextuais. Será essa interdependência a única capaz de explicar a complexidade do comportamento humano para fazer face às constantes mudanças. O Construtivismo é uma perspectiva transaccional que confere importância ao sujeito como construtor da sua realidade, ao atribuir significados aos objectos. Desta forma, os processos cognitivos e afectivos coexistem e permitem compreender a complexidade biopsicossocial da pessoa humana (Rosário & Almeida, 2005).

Podemos, considerando os dados referidos anteriormente, referir que apesar do estudo mais aprofundado da relação entre cognição e emoção remontar ao início da Psicologia como ciência, no entanto, é com a década de 80 que estudos inseridos em diferentes perspectivas da Psicologia, nomeadamente as teorias Psicanalíticas, as Neurociências e as Cognitivo-construtivistas, apresentam estes conceitos como complementares. Será nesta década que, definitivamente, a emoção deixa de ser considerada como antítese da cognição (Pinto, 2005).
Consideramos que cognição/emoção, mais do que conceitos opostos, representam posições contínuas do processo de conhecimento, aprendizagem e desenvolvimento, isto é, fazem parte de um mesmo sistema.

Aceitando esta perspectiva de complementaridade, encontramos na revisão da literatura estudos representantes das abordagens Cognitivistas/construtivistas que defendem que a emoção contribuirá para diferenciar o tratamento cognitivo da informação. Salientamos, por exemplo, Lazarus (1991) segundo o qual a emoção apresentaria um papel crucial no tratamento da informação, sendo que a avaliação cognitiva precederia uma reacção afectiva. No entanto, sem a pretensão de saber se a cognição se situa antes ou depois da emoção, autores como Moreno (1998) afirmam que existe uma verdadeira interacção dinâmica entre cognição e emoção, pelo que coabitariam e colaborariam da mesma forma para o pensamento e para o raciocínio de cada sujeito psicológico.

Recentemente autores como Veríssimo, Monteiro, Vaughn e Santos (2003), num estudo realizado com 50 díades mãe/criança, com o objectivo de estudar a influência do tipo de vinculação no desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças, concluíram que crianças inseguras apresentavam mais dificuldades em perceberem o ponto de vista cognitivo do outro (descentração cognitiva global).
Por sua vez, estudos na área das Neurociências apresentam um funcionamento psicológico integrado, em que conceitos como fisiológico/psicológico, cognitivo/emocional aparecem estabelecendo relações dinâmicas (Darwich, 2005). Esta interdependência entre emoção e cognição foi defendida primeiramente por Damásio (1995) na sequência das suas investigações que concluíram que sujeitos que sofreram de lesões cerebrais apresentam perturbações nas reacções emocionais e, igualmente, na tomada de decisões. Este autor vai mais longe considerando que as emoções são mesmo guias que determinam a direcção das nossas decisões.

COGNIÇÃO/EMOÇÃO E OUTROS CONCEITOS

Terminamos… propondo a aplicação deste dualismo a conceitos como…
Lidar com situações desafiantes (Coping)…
Inteligência emocional…
Auto-conceito e Auto-estima…
Psicologia do Optimismo…
Aprendizagem auto-regulada…
Motivação intrínseca e acção motivada autónoma…
Modelo de Sedução Educacional…
Decisões vocacionais (Interesses/aptidões?)…

Gostaria de participar nesta reflexão?
Quer propor a aplicação deste dualismo a outros conceitos?
Então aceite este desafio e participe…

BIBLIOGRAFIA…

Altman, I., & Rogoff, B. (1987). Word Views in Psychology: Trait, International, Organismic and Transactional Perspective. In I. Altman e B. Rogoff (eds), Handbook of Envirommental Psychology, vol. 1, New York, J. Wiley and Sons.
Azevedo, A. S. (2005). Motivação e Sucesso na transição do ensino secundário para o ensino superior. Tese de Doutoramento em Psicologia. Porto: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Damásio, A. (1995). O erro de Descartes: emoção, cérebro e o cérebro humano. 12ª Edição. Lisboa: Publicações Europa-América
Darwich, R. A. (2005). Razão e emoção: uma leitura analítico-comportamental de avanços recentes nas neurociências. Estudos de Psicologia, 10 (2): 215-222
Pinto, F. E. M. (2005). A afectividade na organização do raciocínio humano: uma breve discussão. Psicologia: Teoria e Prática, 7 (1): 35-50
Moreno, M. (1998). Sobre el pensamiento y otros sentimentos. Cuadernos de Pedagogia, 271: 12-20
Veríssimo, M., Monteiro, L., Vaughn, B. E., & Santos, A. J. (2003). Qualidade da vinculação e desenvolvimento sócio-cognitivo. Análise psicológica, 4 (XXI): 419-430.

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