Na próxima quarta-feira, 28 de Novembro, terá lugar na Faculdade de Filosofia, às 18h, o segundo encontro do Seminário ‘estes dualismos que nos perseguem’. Pedro Cruz, jornalista da SIC e docente do curso de Ciências da Comunicação da Faculdade de Filosofia abordará o dualismo verdade-mentira. O texto seguinte pretende lançar desde já a discussão.
A VERDADE DA MENTIRA
Será a mentira uma meia verdade?
Será, uma meia verdade, mentira?
Será que «quem diz a verdade não merece castigo»?
Será que «com a verdade me enganas»?
Será que dizemos SEMPRE a verdade TODA?
E será que podemos, SEMPRE, dizer TODA A VERDADE?
Será que a verdade liberta? Ou oprime?
Será que a verdade ou a mentira depende de QUEM vê?
Será que depende de COMO se vê?
Será verdade que uma mentira tantas vezes repetida se torna, afinal, verdade?
Será mentira que a verdade não é, afinal, objectiva?
Será que a justiça, cega, alguma vez apura a verdade?
Será que não é melhor uma mentira piedosa a uma verdade dolorosa?
Será que gostamos realmente da verdade? Ou gostamos apenas da verdade que nos interessa?
Será que estamos dispostos a ouvir a verdade dos outros sobre nós?
Será que estamos dispostos a dizer a nossa verdade sobre os outros?
A resposta a estas e outras perguntas pode levar-nos a conclusões surpreendentes.
A VERDADE DA MENTIRA
Será a mentira uma meia verdade?
Será, uma meia verdade, mentira?
Será que «quem diz a verdade não merece castigo»?
Será que «com a verdade me enganas»?
Será que dizemos SEMPRE a verdade TODA?
E será que podemos, SEMPRE, dizer TODA A VERDADE?
Será que a verdade liberta? Ou oprime?
Será que a verdade ou a mentira depende de QUEM vê?
Será que depende de COMO se vê?
Será verdade que uma mentira tantas vezes repetida se torna, afinal, verdade?
Será mentira que a verdade não é, afinal, objectiva?
Será que a justiça, cega, alguma vez apura a verdade?
Será que não é melhor uma mentira piedosa a uma verdade dolorosa?
Será que gostamos realmente da verdade? Ou gostamos apenas da verdade que nos interessa?
Será que estamos dispostos a ouvir a verdade dos outros sobre nós?
Será que estamos dispostos a dizer a nossa verdade sobre os outros?
A resposta a estas e outras perguntas pode levar-nos a conclusões surpreendentes.
5 comentários:
Como seres vivos, fruto de um processo evolucionário, a natureza, ou melhor, o universo em nós toma consciência de si mesmo. Não será, por isso, a percepção da “verdade” intrínseca à consciência humana? Não poderá, então, significar que a experiência humana sobre o que é “verdade” existe enquanto experiência humana sobre o que é “ser humano”?
As questões que abrem ao tema suscitaram-me que a verdade pudesse ser “multi-dimensional”. E quando pensei ligar o que se entende por “verdade”, ao que se entende por “ser humano”, pensei que “verdade” e “ser humano” pudessem ter as mesmas dimensões: material, espiritual e “última”.
A dimensão material seria a verdade científica.
A dimensão espiritual seria a verdade religiosa.
A dimensão “última” seria o Mistério da Verdade.
A verdade científica é exterior a nós, mas também tácita (M. Polanyi).
A verdade religiosa é interior a nós, e manifesta-se exteriormente.
O Mistério da Verdade é o lugar onde o exterior e interior se unem para nos projectar no sentido do que está para além de nós.
À mentira científica chamaria erro.
À mentira religiosa chamaria ilusão.
À mentira do Mistério chamaria ...
Porém, não posso deixar de pensar que alguns erros na história da ciência conduziram a verdades científicas a posteriori, ou que alguns, como Richard Dawkins, consideram a verdade religiosa como uma ilusão. Onde traçar a fronteira entre a verdade e a mentira? Existe fronteira? Não será aqui que entra o Mistério da Verdade, onde assenta a base da experiência que o ser humano faz daquilo que é verdadeiro?
No período do Iluminismo, “mistério” passou a ser um “enigma”, ou um “problema a resolver”, o que desvirtuou – penso – o que hoje se entende por “mistério”. Diria mesmo que é necessário recuperar o sentido de “mistério” nos dias de hoje. Sobre “mistério”, li recentemente num livro do Pde. Denis Edwards, “Human experience of God”, que o “«mistério»... aponta para aquela dimensão da experiência humana que escapa à compreensão, e transcende-nos totalmente” (p. 17). Mas li ainda que este “...horizonte do ser sem limite é aquilo que chamo de «mistério»” (p.20). Parece-me ser este sentido de abertura ao “mistério” que cria o espaço para discernir o que é verdadeiro e o que “distorce” a verdade. Será que mentira se opõe à verdade? Ou distorce-a?
Reconheço que este dualismo levou-me a pensar mais sobre o que é a verdade, o que me suscitou a dúvida se seria mesmo um dualismo, que o dicionário online da Texto Editora define como: sistema religioso ou filosófico que admite a coexistência de dois princípios eternos, necessários e opostos. Sendo assim definido, até que ponto "distorção da verdade" se pode entender como "oposição à verdade"?
No entanto, no sentido do que é “verdade”, lembrei-me do seu esplendor através da Veritas Splendor de João Paulo II. Nessa encíclica, João Paulo II afirma que a consequência de trocar a verdade pela mentira é ofuscar a capacidade do ser humano de conhecer a verdade, e enfraquecer a sua vontade de se submeter à verdade. Não será assim que “verdade e mentira” se tornam numa questão ética e moral?
Penso que uma das alternativas mais insólitas para responder a esta dupla “verdade/mentira” é Jesus. Ele que se afirmou como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6). Ou como expressou o Concíclio Vaticano II: “Na realidade, o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado” (GS, 22).
Sendo Jesus imagem visível de Deus invisível, “um” com o Pai (Jo 17, 21-23), e que nos disse que enviaria o Espírito Santo para nos ensinar todas as coisas (Jo 14, 26), será possível responder a este “dualismo” com uma experiência de vida que procure ser imagem da vida trinitária, do seu carácter profundamente relacional, cuja lei que a rege é o amor?
Desejo-vos um bom seminário e sintam-me em unidade convosco.
Relativemente às questões relacionadas com a subjectividade da Verdade acho que são questões acerca da existência de um referencial que seja objectivo. Havendo esse referencial então a resposta torna-se óbvia... O problema torna-se no entanto...quem ou o quê poderá constituir esse referencial?
“O que é a verdade?” – perguntou Jesus a Pilatos, tendo ficado sem resposta. Desde então, esta pergunta ecoa pelos séculos sem que se lhe tenha respondido adequadamente. Sabemos que há várias teorias sobre a verdade, e a mais ‘popular’ é a teoria da verdade como correspondência entre uma proposição e os factos a que se refere. Será esta a teoria implícita na actividade e nos textos dos jornalistas? Estarão os jornalistas interessados nesta verdade? Queiram ou não, parece-me que a imagem que as pessoas em geral têm do jornalista é a de alguém que não está especialmente interessado no que é verdade mas sim no que pode ser interessante para aumentar as audiências da rádio ou da televisão, ou para acrescentar o número dos leitores de jornais e revistas. Não seria justo estender esta imagem a todos os jornalistas, mas estará a deontologia do jornalismo interessada em defender a verdade e nada mais que a verdade? Esta questão está naturalmente relacionada com uma outra, a da finalidade do jornalismo: informar, entreter, vender, influenciar…?
Para Nietzsche a verdade é um ponto de vista. Segundo o que ele diz, não podemos definir nem aceitar uma definição de verdade porque não se pode alcançar uma certeza sobre isso.
Mas temos a interpretação da verdade, essa interpretação depende dos juízos que temos perante determinada coisa. Sendo assim, o jornalismo propõe contar factos com o máximo rigor e objectividade. No entanto, o jornalista não diz a verdade, relata o acontecimento e dá voz às pessoas. Por isso é que existe o princípio do contraditório que é, nada mais, nada menos que dar voz a todos os sujeitos implicados numa notícia. “Todas as partes envolvidas devem ser sempre ouvidas e confrontadas — e registada a sua perspectiva” (Livro de Estilo, Público)
O jornalismo deve ser feito com seriedade e credibilidade. “Nenhuma notícia deve sair a público sem a devida confirmação e absoluta confiança na fonte de origem.”
Apesar de muitos exemplos que ditam o contrário penso que qualquer jornalista tem sempre isto em mente. Se os jornalistas estão mais interessados nas audiências? Não creio, mas penso que as pressões internas podem influenciar um bocadinho. Na corrida contra o tempo, “O melhor que pode acontecer a um jornalista é dar uma notícia em primeira-mão; o pior é ser desmentido pelos factos." (Livro de Estilo, Público)
Gostava de referir 3 pontos diferentes:
1-Lendo alguns comentários prévios do conferêncista Pedro Cruz,
nomeadamente acerca da tão proibida questão para os jornalistas "O que
sente?", fiquei com a plena sensação de que efectivamente não utilizamos
todos as palavras da mesma forma (refiro-me ao cuidado, precisão e riqueza
com que vejo alguns indivíduos utilizar estes instrumentos de comunicação
que são as palavras). Assim, aquilo que é verdade para mim (porque as
minhas palavras só me permitem conhecer uma determinada parte do mundo)
pode não o ser para outro. Tudo isto sucendendo tendo sido utilizadas
exactamente as mesmas palavras.
3 - Aquilo que sinto neste momento é alterado pelo simples facto de o ter
sentido e, se calhar, pelo facto de o ter expressado corporalmente ou em
palavras. Como tal a questão surge de novo: se o meu sentimento se altera
a cada momento, existe uma verdade? Devo ficar vinculado ao que senti um
segundo antes? Entenda-se: o que era para mim verdade ontem, tem de o ser
hoje?(basta pensar na diferença que seria se num depoimento legal o
indivíduo referisse:"jurei que o ia matar!", ou se, pelo facto de o
inquérito ter sido feito posteriormente referisse "apesar de não ter
gostado da atitude, compreendi o seu ponto de vista e as suas acções").
3- A verdade-mentira pode variar também, porque pura e simplesmente o
contexto é diferente (veja-se a utilização da palavra Resiliência em
engenharia de materiais ou em psicologia).
4 - Este ponto é totalmente distinto dos restantes e diz respeito à
questão da informação que se deve fornecer ao doente. É sabido que a
medicina anglo-saxónica e europeia tendem a divergir largamente neste
debate (a primeira considera que o doente tem direito a receber todas as
informações ainda que isso lhe possa cuistar a própria vida, enquanto que
no velho continente se tenta utilizar mais a noção de "dar a informação
necessária e para a qual o paciente está preparadoi para receber"). Apesar
de ter sido bastante discutido na literatura da bioética, achei que era de
referir nesta discussão.
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