domingo, 13 de janeiro de 2008

Inconsciente – consciente

No próximo dia 16 de Janeiro, às 18h – sala 3.1
José António Alves abordará o dualismo 'consciente-inconsciente'
Este texto lança desde já o debate

A Consciência apresenta-se, depois de Descartes, como a propriedade essencial da mente humana. Trata-se de uma propriedade que todas as propriedades devem ter para ser consideradas de propriedades mentais. Por exemplo, o pensamento só é propriedade mental enquanto pensamento consciente. Tanto Descartes como outros pensadores não se preocupam em fazer uma análise da consciência, pois esta apresenta-se-lhes como sendo uma propriedade cuja natureza se manifesta na experiência. Outro aspecto que Descartes focaliza é o factor unificador da consciência, reunindo os estados mentais num único local denominado de Ego. Assim, para Descartes, a consciência é a base da certeza. A consciência é a luz que ilumina tudo que cai sobre a sua alçada.

A esta posição de Descartes opôs-se Leibniz falando de percepções e pensamentos inconscientes. Leibniz desfaz a igualdade de Descartes segundo a qual a mente era igual à consciência. Deste modo, contra as ideias vigentes na época, abriu espaço à ideia de que processos inconscientes afectavam a formação de pensamentos, julgamentos e tomadas de decisões. Ora este modo de pensar não podia estar mais contra o século da razão e a ideia de que o ser humano tudo controla.
Focalizo estes dois autores, Descartes e Leibniz, porque são os dois pensadores que se pode considerar estarem na origem dos dois conceitos que se contrapõem nesta apresentação: consciente e inconsciente.
E o que é que está em contraposição? Apenas dois conceitos? Duas visões de mundo? Dois substantivos ou dois adjectivos? Serão duas realidades claramente separadas? Que papel desempenham na vida humana? Esboçam, os dois conceitos, um dualismo que nos persegue positiva ou negativamente ou não há dualismo nenhum?

Para a apresentação não se perder no meio das múltiplas possibilidades de abordar esta temática, baixa-se o enfoque sobre a acção humana.
Estudos empíricos sobre a consciência humana têm mostrado dados curiosos. Um desses estudos é o do neurocientista americano Benjamin Libet.
A consciência, como muito bem viu Descartes, evidencia-se como uma das coisas de que mais o ser humano é certo. Mais, a certeza da consciência é de que tudo se experimenta imediatamente no seu espaço diáfano. Quer a experiência diga respeito à percepção, quer a experiência diga respeito à vontade de querer agir, acontece sempre aqui e agora.

Na década de 1950, Benjamin Libet desenvolveu uma investigação sobre a consciência humana da qual concluiu que a consciência humana está meio segundo atrasada em relação à ocorrência dos estímulos do sistema nervoso. Concluiu que a experiência consciente não é imediata. Mas mais que isso. Em estudos subsequentes, sobre a liberdade humana, veio a concluir que antes do ser humano tomar consciência da vontade de querer agir já o cérebro desencadeara os processos cerebrais associados a determinada acção.

Será a consciência uma mera ilusão? As acções e decisões, que parecem conscientes, no fundo serão meros processos inconscientes? Quem realmente controla o ser humano, a consciência ou o inconsciente?

O inconsciente foi um conceito que demorou a conquistar o seu espaço na cena intelectual. Contudo, desde que Leibniz o trouxe à luz do pensamento, tem sido um conceito em franco desenvolvimento. Inclusive, não se exagerará muito ao dizer que tem tomado o lugar que a consciência teve. São muitos os estudos no âmbito das ciências cognitivas que apresentam a tese da ilusão da consciência para afirmarem a força dos mecanismos inconscientes da mente humana. E até se afirma, concretamente o psicólogo Julian Jaynes, que a consciência é um fenómeno recente na história do homo sapiens. Data apenas de, mais ou menos, há 2500 anos. Encontrar-se-á na Ilíada os seus primeiros vestígios. Parece que quanto mais se estuda o assunto mais se sublinha esta tendência de valorizar o inconsciente em detrimento do consciente.
Tem havido modos diferentes de conceber o inconsciente. Desde o romantismo que sublinhava a agência independente dentro da mente capaz de criar obras de arte de se organizar numa identidade, a uma versão mais mecanicista, segundo a qual a mente humana é regida por mecanismos inconscientes que funcionam através de processos impessoais e desinteressados, até à versão do incontornável Freud para quem o inconsciente é a verdadeira realidade psíquica.
Porém perguntar-se-á: se o interessante é o inconsciente e a consciência é uma ilusão, porque a é de um modo tão constante e tão espalhado pela humanidade? Se é possível explicar o comportamento sem a consciência, porque estará ela sempre presente? Qual será o seu papel? Se os processos inconscientes parecem ter tanto espaço e tanta eficiência, porque se deu a natureza ao trabalho de colocar na espécie humana a consciência?
A defesa do automatismo sugere que a perfeição nada tem a ver com sermos conscientes. Sabemos que há órgãos que perderam a função orgânica do passado. No entanto, porque razão a consciência, na mesma linha da defesa do automatismo, nunca teve, não tem e nem mostra probabilidades de vir a ter alguma função?

4 comentários:

Anónimo disse...

As questões são interessantes, sobretudo, a inevitabilidade da consciência. Veja-se o caso de Libet. As suas experiências parecem conduzir à eliminação da consciência e da liberdade, mas sente a necessidade de introduzir um princípio de veto que funcione como mecanismo de livre-arbítrio.

Assim, apesar das tentativas de explicar o consciente pelo sub ou in-consciente, não estaremos condenados a regressar, sistematicamente à consciência? Se tentar eliminar ou deflacionar a consciência é uma atitude consciente, então ela não constituirá um ponto de partida e de chegada inevitável?

alfredo dinis disse...

Se tomarmos o termo ‘inconsciente’ no sentido amplo de tudo aquilo que em nós não está presente na consciência, não apenas em sentido psicológico, então a grande maioria dos processos biológicos que mantêm vivo o nosso corpo, fazem parte desse inconsciente. Não temos consciência deles, - a não ser, em certos casos, quando são ‘perturbados’ -, e ainda bem! Os automatismos que me constituem permitem-me viver sem ter que deles me ocupar constantemente, dando-me assim oportunidade para me ocupar de outras coisas bem mais interessantes, como os processos criativos, as relações afectivas, etc., das quais sou consciente. Os processos inconscientes não são assim algo que se oponha aos processos conscientes e livres mas, muito pelo contrário, algo que os torna possíveis.

A consciência surgiu no processo evolutivo como uma vantagem adaptativa, mas também como uma possibilidade de intervir no próprio processo evolutivo aumentando o simples sentido de sobrevivência assegurado pelos automatismo biológicos, e alargando esse sentido às questões que consideramos especificamente humanas, como o sentido da existência e da acção humana em geral.

Nesta perspectiva, não se pode dizer que o consciente e o inconsciente são duas ‘entidades’ radicalmente diferentes e, se não separadas, pelo menos separáveis. Creio que as dimensões consciente e inconsciente formam um contínuo e que portanto, uma vez mais, a perspectiva dualista não é aqui adequada.

Unknown disse...

Gostava de acrescentar ao interessante debate um enfoque sobre a noção de consciência que pode definir-se, em português, como dar-se conta de, cair em si (quando anteriormente se andava não ciente de, inconsciente de, por não poder suportar "ver").
É que esta consciência (quando entre a percepção e o agir se vivenciam experiências emocionais avassaladoras, ligadas ao que se percepcionou, e que podem manter-se fora da consciência, por exemplo pela negação)pode só vir a encontrar hipótese de existir muitos anos depois da percepção (muito mais do que meio segundo). Nesse caso, passados anos, "toma-se consciência" do que realmente aconteceu naquele momento passado, mas que ainda não tinha interiormente sido presentificado pela conscencialização. Logo, há noções acerca da temporalidade e do tempo que são mais ou menos apropriadas para lidar com as várias noções de consciência.
Já nas tragédias de Sófocles somos levados a acompanhar a impossibilidade de "tomar consciência de" por parte de Édipo. Apesar de todos os avisos e pré-monições, a sua convicção (arrogante?) de que vai ser ele o "puro" que vai salvar a cidade, mantém-se. Só o velho Tirésias reúne as condições para continuar a receber os sinais frágeis da realidade que permitem a manutenção da consciência (que, neste sentido, está sempre ligada à incerteza e a fragilidade).Quando Édipo cai em si, é já tarde (muitos meios segundos mais tarde). A análise de tudo o que costumamos designar por paixões humanas (ciúmes, inveja, atracção irracional por alguém ou alguma coisa) leva-nos a pensar nesta difícil consciência que , neste sentido, é "consciência da realidade" externa e também dos nossos afectos internos.
Julgo ser esta uma das acepções da oposição freudiana entre princípio do prazer e princípio da realidade.
Estou de acordo com a necessidade de haver processos que são mantidos inconscientes para que a consciência possa "funcionar". Assim, não só os processos biológicos mas também algumas experiências emocionais excessivamente perturbadoras necessitam ser mantidas afastadas dos processos de pensamento e da consciência. Contudo, da acessibilidade em que possam ser mantidas em relação à consciência de cada um dependerá a nossa saúde mental.
NOTA: parabéns ao Dr. José António e ele que me desculpe o jogo retórico entre os dados da investigação empírica (o meio segundo)e os dados da observação psicológica.

Anónimo disse...

aff qi chato mo besteira isso ai chatão pra merda isso é uma bosta infiada bem no meio af qi brega odeio esse asusto i tud qui tem a ver com ele <3 bregaaa di maisssssss