terça-feira, 27 de maio de 2008

belo-bruto

Estará em debate amanhã, quarta-feira, 28 de Maio, um dos dualismos que tem perpassado toda a história da cultura: o par belo-bruto. Será apresentado por Carlos Morais, docente da Faculdade de Filosofia, propondo-se aprofundar a questão dos critérios do gosto que fundam os juízos de apreciação estética.A sessão terá lugar na sala 3.1, às 18,00 horas.
Os seguintes tópicos pretendem lançar desde já o debate.
«A ideia de que possa existir uma verdade “absoluta” (que apenas significa: não relativa, recordemo-lo pois tão pejorativo se tornou o termo) faz sorrir o primeiro liceal recém-chegado, se é que não o aterroriza. Em qualquer caso, ela contradiz a sua única convicção absoluta: a de que não existe verdade absoluta. Este resultado é o fruto de uma longa história, de uma história que foi, de facto, a das profundas subversões. Dado que a filosofia moderna não começa com Nietzsche, nem com Marx, mas antes com Descartes que acreditava firmemente, difícil de o contestar, no carácter absoluto das verdades eternas. A distância que nos separa hoje de uma tal crença parece abissal.

Na estética acontece algo completamente diferente: fundando o belo numa faculdade bastante subjectiva (…), a sua história, pelo menos até aos finais do séc. XIX, iria do relativismo para a busca dos critérios do juízo de gosto. Num paradoxo que merece reflexão, o gesto relativista mostra-se bastante menos à vontade no campo da estética do que no da filosofia pura, até mesmo no da ética, e isto por uma razão bem simples: desmorona-se rapidamente sob o peso da sua própria banalidade.»
Luc Ferry, Le sens du beau. Aux origines de la culture contemporaine, Éditions Cercle d’Art, 1998, p. 26.

«O ciclo das desconstruções termina: eis chegado o tempo das fundações»
Laurent Danchin, Pour une art post-contemporain, Ed. Lelivredart, Paris, 2008

«Gosto é a faculdade de julgamento de um objecto ou de um modo de representação mediante um comprazimento ou descomprazimento (independente de todo o interesse). O objecto de um tal comprazimento chama-se belo.»
Immanuel Kant, Crítica da Faculdade do Juízo, introd. de António Marques, trad. e notas de António Marques e de Valério Rohden, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1992, p. 98 (§ 5, 16).

«A estética analítica não tem que se limitar de modo algum à metacrítica. As obras referem e são então símbolos. As técnicas analíticas originalmente inventadas para explicar a linguagem podem ser ampliadas e adaptadas para se aplicarem aos outros géneros de símbolos. (…) Compreender uma obra como simbólica, é incluí-la numa linguagem ou num sistema simbólico. A sintaxe do sistema determina a identidade dos signos, a sua semântica fixa a sua referência. Uma das tarefas da estética analítica consiste em descrever os sistemas apropriados à arte. Uma outra consiste em determinar em que é que se assemelham aos outros sistemas e em que é que diferem.»
Nelson Goodman & Catherine Z. Elgin, Esthétique et connaissance, trad. Par Roger Pouivet, Éditios de L’Éclat, Cahors, 1990, p. 85.

«Sugeri frequentemente que a experiência estética mais autêntica era uma experiência selvagem que para se entregar ao objecto, para se deixar surpreender e fascinar por ele, como por algo raro, para fruir dele, devia libertar-se dos hábitos, dos preconceitos, e das normas que a cultura lhe impõe. Então, desculturar-se? Sim, mas talvez não seja assim tão fácil: não é espontâneo/inocente quem quer; esta espontaneidade, esta frescura do olhar ou da audição, é necessário alcançá-las, e possivelmente à força de cultura: é necessário muita cultura para se libertar da cultura (…)».
Mikel Dufrenne, L’inventaire des a priori. Recherche de l’originaire, Christian Bourgois Editeur, Paris, 1981, pp. 296-297.

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